Tenho saudades de ver o Vitória. Saudades dos tempos em que saíamos do estádio com um sorriso estampado no rosto, dos tempos em que ir ao futebol era sinónimo de festa e alegria. Tenho saudades das grandes equipas e dos grandes jogadores que já passaram pelo Vitória. Ao recordar esses tempos imaginei como seria uma equipa com os melhores jogadores que já vi no Vitória. Tendo em conta que apenas comecei a ir ao estádio no início dos anos 90, esta foi a equipa que idealizei. Na baliza António Jesús, um guarda-redes capaz do impossível, transmitia enorme confiança aos colegas e era um verdadeiro líder. A defesa direito José Carlos, seguro a defender, bastante participativo nos lances ofensívos e bom nos cruzamentos. Criou juntamente com Paneira e Capucho uma ala direita temível. No centro da defesa, Fernando Meira e Geromel. Meira era seguro defensivamente, muito forte no jogo aéreo, forte fisicamente, bom na marcação indívidual e bastante pragmático raramente complicava. Geromel era pura classe. Era rápido, tinha optima capacidade de antecipação, excelente leitura de jogo, era bom a saír com bola e tinha uma boa técnica. No lado esquero da defesa Dimas, um defesaa seguro, sempre bem posicionado, muito regular, bastante ofensivo e bom a cruzar. No centro do meio campo, N´Dinga, exímio a fazer a ligação entre a defesa e o meio campo e o meio campo e o ataque, tinha boa técnica, boa qualidade de passe e boa visão de jogo, era de uma entrega inexcedível e muito bom a recuperar bolas. Ao lado de N´Dinga no meio campo jogaría Vitor Paneira. Um autêntico cérebro, com uma inteligência e visão de jogo muito a cima da média, tinha optima técnica, uma qualidade de passe fantática e era um organizador de jogo como poucos. Na ala direita Pedro Barbosa um jogador charmoso. Tinha uma técnica muito boa, segurava a bola como poucos, fazia jogar os companheiros e era capaz de inventar espaços quando parecia não haver solução. Do outro lado na ala esquerda Zahovic. Um médio muito regular, dava pouco nas vistas mas era extremamente eficaz, estava sempre em jogo, era capaz de fazer passes milimétricos e de desiquilibrar a qualquer momento. A número 10 estaria Dane. Um jogador fantástico, teve o azar de uma grave lesão lhe ter roubado o brilho, mas era um jogador extraordinário. Era um jogador de equipa, tinha um técnica muito evoluida e era único a descobrir soluções para os problemas que surgiam. Por fim no ataque jogaría Saganowski. Um ponta de lança brilhante, forte fisicamente, perspicaz, aparecia quase sempre no sítio certo na altura exacta. Era capaz de fazer golos com o pé direito, com o pé esquerdo e com a cabeça com uma fcilidade estonteante. Era um ponta de lança completo.
Para completar esta equipa de sonho existiria ainda um banco de luxo, composto por um guarda-redes, um defesa, três médios e dois pontas de lança. O guarda-redes seria Pedro Espinha, muito seguro, pouco espetacular, mas extremamente eficaz. O defesa, Alexandre, era um bom defesa, forte fisicamente, forte no jogo aéreo e bom na antecipação. No meio campo teríamos Paulo Bento, Fredrik e Capucho. Paulo Bento jogava simples não complicava, era muito bom a recuperar bolas e a organizar jogo. Fredrik era uma autêntica carraça, muito combativo, sempre colado aos adversários, era tmbém polivalente podia alinhar a médio esquerdo, médio interior esquerdo e defesa esquerdo. Capucho tinha a magia nos pés, era rápido, desiquilibrava, fazia optimos cruzamentos e jogava sempre a pensar no ataque. Por fim os dois pontas de lança seriam Gilmar e Ziad. Gilmar não era um jogador muito vistoso, nem era um fora de série, mas garantia sempre uma média de 10/12 golos por ano e era de uma entrega ao jogo inexcedível. Ziad tinha enorme qualidade, era um finalizador nato, tinha muita garra e uma optima capacidade de finalização.
Para treinar uma equipa destas apenas poderia escolher um treinador, Quinito. Autor de expressões que ficaram celebres como: " Pôr a carne toda no assador" ou " Foi um jogo entretido". Era apologista do jogo bonito, do espetáculo e do futebol de ataque. Tinha uma ideologia na qual ainda hoje me revejo, dizia que para jogar bonito era necessário ter a bola e que quem tinha a bola estava sempre mais perto de ganhar do que de perder. Era um treinador que conseguia motivar os jogadores e os adeptos. Era um autêntico espectáculo dentro do espectáculo.
Se fosse possível juntar todos estes jogadores numa só equipa certamente criariam uma equipa temível, uma equipa bem capaz de ganhar títulos. É certo que os tempos eram outros, mas estes são os jogadores que digo que são jogadores á Vitória. Eram jogadores que nos faziam sonhar, que nos davam alegrias e que levavam bem alto o nome do Vitória. Nestes tempos era frequente ouvir a crítica, nacional, dizer, de forma unânime, que o Vitória era a equipa que jogava melhor futebol em Portugal. Que saudades tenho destes tempos.
Ao tentar perceber o porquê de termos tido equipas tão boas, e agora estármos num momento tão complicado, análisei esta equipa de sonho a ver se encontra algumas respostas. E não foi difícil descobrir algumas coisas. Esta equipa seria maioritariamente composta por jogadores portugueses, no onze títular estariam 6 portugueses. Logo os jogadores tinham uma noção mais exacta do que representava jogar no Vitória, havia uma maior identicação entre os jogadores e o clube. Coisa que nos dias de hoje não acontece, veja-se a equipa que jogou com o Beira-Mar, os portugueses eram uma clara minoria no onze. Nesta equipa de sonho todos os jogadores tinham um enorme sentido de equipa, jogavam em bloco como um todo, as movimentações eram colectivas, ninguém ficava parado a ver jogar ou a espera da bola. Depois nenhum destes jogadores recebia extraordinários salários, mas durante 90 minutos, todos os domingos, eram os homens mais felizes do mundo. Jogavam com alegria, com paixão pelo jogo e com uma dedicação extraordinária ao Vitória. Eram simples e humildes, não havia penteados exôticos, nem chuteiras coloridas ou corpos tatuados, havia a alegria de jogar futebol. Eram de uma dedicação exemplar, todos eles marcaram o seu tempo no Vitória e deveriam agora ser vistos como exemplos a seguir. Já para não falar que no onze titular desta equipa de sonho apenas um jogador não era internacional, o Geromel, todos os outros jogaram pelas suas selecções.
Como eu gostava de voltar a sonhar a cada domingo, de voltar a ver verdadeiros espectáculos, de poder sorrir quando saio do estádio, como eu gostava que um dia o Vitória voltasse. Mas nunca irei desistir e apoarei sempre o Vitória, com a certeza de que dias ainda melhores do que os mencionados chegarão.
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